O estudo REVIVED-BCIS2 mostrou que revascularização miocárdica com angioplastia percutânea (PCI) falhou em prover benefícios comparado com tratamento clínico otimizado (GDMT) em pacientes com disfunção ventricular importante e doença coronariana extensa.

Este ensaio clínico randomizado foi recentemente apresentado durante o Congresso Europeu de Cardiologia – ESC 2022 em Barcelona e publicado simultaneamente no New England Journal of Medicine. De acordo com os resultados, não houve diferença no desfecho primário de morte por qualquer causa ou hospitalização por insuficiência cardíaca.

Base teórica:

De acordo com os Guidelines da ESC, CRM é recomendada como primeira estratégia de revascularização em paciente com cardiomiopatia isquêmica e doença de múltiplas vasos, desde que o risco de cirurgia seja aceitável (classe I, nível de evidência B). PCI pode ser considerada em doença de 1 ou 2 vasos, quando revascularização completa pode ser alcançada (classe IIa, nível de evidência C).

Desenho:

700 pacientes com FE ≤ 35% (avaliada por ecocardiograma ou RNM), extensiva doença arterial coronariana (British Cardiovascular Intervention Society jeopardy score ≥6) e viabilidade miocárdica (demonstrada em pelo menos 4 segmentos viáveis para PCI) foram randomizados (347 grupo PCI, 353 no grupo GDMT). Idade mediana de 70 anos.  77% estavam em classe functional NYHA  I/II  e 88% eram homens. Mediana do BCIS jeopardy score foi 10 de 12.

No grupo PCI, protocolo de tratamento requeria que os operadores tentassem revascularização em todos os vasos com doença proximal.

Follow-up: mediana de 3,4 anos.

Desfecho:

Desfecho primário: composto de morte por qualquer causa e hospitalização por ICC.

Resultados:

Desfecho primário: 37,2% (129 pacientes) no grupo PCI vs. 38,0% (134 pacientes) no grupo tratamento clínico (sem diferença significativa) (HR 0,99; IC 95% 0,78-1,27; P=0,96).

Mortalidade: 31,7% (110 pacientes) no grupo PCI vs. 32,6% (115 pacientes) (HR 0,98; IC 95% 0,75-1,27).

Hospitalização por ICC: 14,7% (51 pacientes) no grupo PCI vs. 15,3% (54 pacientes) (HR 0,97; IC 95% 0,66-1,43).

Infarto espontâneo e risco de revascularização não planejada (2.9% PCI vs. 10,5% tratamento clínico; HR 0,27; IC 95% 0,13-0,53) foram mais frequentes no grupo tratamento clínico.

Qualidade de vida (KCCQ): tendeu a favorecer PCI em 6 meses, mas sem diferença significativa em 2 anos.

Fração de ejeção: sem diferença em 6 meses (diferença média −1,6 pontos percentuais; IC 95% −3,7-0,5) e 12 meses (diferença média 0,9 pontos percentuais; CI 95% −1,7-3,4).

 

Referência: Perera D, Clayton T, O’Kane PD, et al. Percutaneous Revascularization for Ischemic Left Ventricular Dysfunction [published online ahead of print, 2022 Aug 27]. N Engl J Med. 2022;10.1056/NEJMoa2206606. doi:10.1056/NEJMoa2206606

REVIVED-BCIS2 trial