Embora os resultados iniciais do estudo MITRA-FR trial não tenham conseguido demonstrar uma vantagem do tratamento percutâneo da regurgitação mitral em comparação com o tratamento clinico otimizado em pacientes com regurgitação mitral secundária, novas analises trazem resultados mais animadores. Confira um resumo abaixo.
Metodologia: ensaio clínico randomizado
Racional:
Os estudos MITRA-FR e COAPT trial foram originalmente desenhados para avaliar a eficácia do reparo transcateter edge-to-edge da valva mitral (TEER) no manejo da regurgitação mitral secundária quando comparado ao tratamento clínico otimizado (GDMT) em um seguimento de 1 ano no caso do MITRA-FR e 2 anos no caso do COAPT trial.
O período de seguimento reduzido do MITRA-FR quando comparado ao COAPT trial, fui um dos fatores levantados como envolvidos na ausência de benefício do tratamento percutâneo observado neste estudo. Entretanto, mesmo após 2 anos de seguimento, a taxa do desfecho primário composto ainda foi similar entre o tratamento percutâneo e clínico (64,2 % vs. 68,6 %, HR 1,01; IC 95 % 0,77 – 1,34), com uma tendência à redução de hospitalização no grupo de tratamento percutâneo. Esta observação foi o racional para o presente estudo, que consistiu na avaliação da taxa de hospitalização entre 1 e 2 anos após o tratamento edge-to-edge com MitraClip entre os pacientes arrolados no MITRA-FR que não apresentaram desfechos durante o primeiro ano de seguimento.
Desfechos:
Desfecho primário: taxa cumulativa anual de hospitalização por insuficiência cardíaca entre 1 e 2 anos após a inclusão no estudo.
Desfecho secundário: composto de mortalidade por qualquer causa e hospitalização por insuficiência cardíaca entre 1 e 2 anos após a inclusão no estudo.
Resultados:
Dentre os 304 pacientes randomizados no MITRA-FR trial, 140 pacientes (67 do grupo TEER vs. 73 do grupo GDMT) não apresentaram qualquer componente do desfecho composto no final do primeiro ano após o estudo e foram incluídos nesta reanálise. Estes pacientes apresentavam características de baseline e ecocardiográficas mais favoráveis que os pacientes que apresentaram desfechos de morte e hospitalização ao final do primeiro ano.
Houve uma tendência a menor taxa cumulativa de hospitalização por insuficiência cardíaca no grupo TEER (27,6 vs. 60,0 eventos / 100 paciente-ano, HR 0,45; IC 95 % 0,20-1,02; p = 0,057).
O desfecho composto de mortalidade por qualquer causa e hospitalização não planejada por insuficiência cardíaca ocorreu menos frequentemente no grupo TEER (20,1 % vs. 32,9 %, HR 0,55, IC 95 % 0,28- 1,07; p = 0,08), principalmente em decorrência de menor taxa de re-hospitalização (16,4 % vs. 30,1 %, HR 0,47, IC 95 % 0,23-0,97; p = 0,04).
Referência: Leurent G, et al. Delayed hospitalisation for heart failure after transcatheter repair or medical treatment for secondary mitral regurgitation: a landmark analysis of the MITRA-FR trial. EuroIntervention. 2022 May 25:EIJ-D-21-00846. doi: 10.4244/EIJ-D-21-00846. Epub ahead of print. PMID: 35611516.